quarta-feira, 3 de julho de 2013

Pensamentos e autoavaliação

Gostaria de iniciar essa autoavaliação com um belíssimo texto que foi apresentado em sala de aula.
Texto “A borracha” de Marina Fernandes
Clarinha, filha de minha amiga Alessandra, no auge dos seus quatro anos, já sabe, como os demais de sua geração, o significado de “deletar”, a função do “backspace”, e, se duvidar, já se arrisca a usar o ctrl+z. Mas o que tem encantado Clarinha nesses últimos tempos é mesmo a borracha: a descoberta desse avanço tecnológico que permite apagar o que suas mãozinhas produzem com o grafite do seu lápis. Claro que ela não classifica os efeitos da borracha como “avanço tecnológico”. Para ela é mágica. Ou “apenas” mágica, como diriam os menos esclarecidos. Clarinha encontrou na borracha as delícias do fazer e desfazer. Ou melhor: fazer, desfazer e refazer. Então, não foi de assustar quando, ouvindo com a mãe os últimos acontecimentos do Brasil, seus olhinhos brilhassem ao perguntar: “Mas mamãe!!! Existe uma bala toda feita de borracha??? Difícil é tentar refazer a imagem que se formou naquela cabecinha cheia de cachinhos castanhos, mas uma coisa é certa: para ela, alguém havia conseguido unir em um único elemento seus dois maiores objetos de desejo! Que gênio teria feito isso? Certamente na condição de inferioridade que o mundo adulto nos impõe, melhor nem tentar descobrir a gama de possibilidades que Clarinha atribuiu àquele objeto tão especial, tão perfeito ao ponto de saciar o paladar e a criatividade ao mesmo tempo! Podemos apenas concluir que no mundo de Clarinha não existem conflitos armados ou manifestações populares. Gasolina é apenas algo com cheiro ruim que faz o carro da mamãe andar. E bola de futebol é aquilo que se compra na lojinha da esquina com um dinheirinho azul que tem o desenho de uma tartaruga. É, Clarinha, quem dera todos nós fizéssemos a oração de Adélia Prado: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande.” Então, minha querida, teríamos hoje um lindo objeto que, além de apagar o que está errado, ainda permitiria fazer tudo novamente. E mais: esse processo viria acompanhado de um doce gostinho de morango... ou outra fruta qualquer...

Quando iniciei a disciplina de Tendências Contemporâneas de Currículos a primeira questão levantada pela professora Rita foi: O que é currículo? E sem pestanejar respondi pra mim mesma com todo o meu jeitinho mineiro: Uai, é um documento que vem pra escolas e que os professores devem seguir. Nesse documento constam os conteúdos que temos que trabalhar.
Acredito que essa foi a primeira vez que utilizei a borracha na disciplina. Não que minha concepção de currículo estivesse errada, mas não estava correta. A cada aula que se passava Currículo ganhava uma definição diferente e a borracha não estava mais me servindo tão bem, pois não conseguia apagar minha ideia inicial. Foi preciso virar a página do caderno e descobrir a alegria do recomeço.
A partir de então minha visão sobre currículo foi modificando e através de muitos textos e principalmente muitas discussões sobre o tema que meus conceitos foram expandindo.
Ampliando minhas definições de currículo aprendi que o “poder” está nas mãos dos professores, que o currículo pode até vir pronto, mas somos nós que decidimos o que fazer com ele. Temos autonomia para tal. Aprendi a não mais falar de currículo sem falar de cultura, sociedade, práxis, história, planos de ensino....
Enfim...
Virando a página aprendi que meus erros eram tão importantes quanto meus acertos, afinal não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros.
Nós professores, vemos a borracha e o caderno como simples objetos em sala de aula e por vezes perdemos esse espirito positivo de Clarinha que nos faz enxergar que esses objetos são na verdade lindas metáforas da vida.

Se você errou, apague. Se os erros forem demais, vire a página.

A política do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um currículo nacional? (cap. 3)


Neste capítulo, Apple  afirma que o currículo não é neutro e sim um produto de tensões, conflitos culturais, políticos e econômicos capaz de organizar e desorganizar um povo. 

O autor expõe algumas questões que norteiam seu trabalho: a) relações entre capital econômico e capital cultural, b) o papel da escola como reprodutor de desigualdades de poder; c) como o currículo e os processo de avaliação agem em relação esta questões anteriores.

Segundo Apple, a discussão sobre o currículo nacional é encaminhada tanto pelos grupos de direita como pelos liberais. Estes últimos, justificam que o currículo Nacional representará um conteúdo mais rigoroso nas escolas, aprendizado cooperativo, necessidade de programas de formação de professores e não implicará em redução de custos na educação.

"O conservadorismo de fato tem diferentes significados em diferentes épocas e lugares. Algumas vezes, envolve ações defensivas; outras vezes, envolve ofensivas contra o status quo. Atualmente estamos testemunhando as duas coisas." (pag. 67)

“Fundamentalmente, então, quatro tendências têm caracterizado a restauração conservadora não só nos Estados Unidos, mas também na Grã-Bretanha – privatização, centralização, vocacionalização e diferenciação." (pag. 69)

“Um currículo nacional pode ser visto como um instrumento para prestação de contas, para ajudar-nos a estabelecer parâmetros a fim de que os pais possam avaliar as escolas.” (pag. 75)


“É possível, por exemplo, afirmar que, somente instituindo um sistema de currículo e avaliação nacionais, seremos capazes de deter a fragmentação que virá em consequência da porção neoliberal do projeto direitista.” (pag. 85)

Repensando ideologia e currículo (cap. 2)



Tipo: LIVRO

Assunto / tema: Educação. Política. Sociologia. Ideologia. Currículo.

Referência Bibliográfica: Repensando ideologia e currículo.In:MOREIRA, A. F.; SILVA, T. T. Currículo, Cultura e Sociedade. 10.ed. São Paulo:Cortez, 2008.

[...]Ideologia e Currículo –reconhecidas suas limitações e silêncios – é parte de minha jornada nesse caminho para a democracia cultural.(p. 35)


[...] Fica bastante claro ao se notar que os ataques da direita às escolas, o clamor pela censura e as controvérsias acerca dos valores que estão e que não estão sendo ensinados, acabaram por transformar o currículo em uma espécie de bola de futebol política. ( p.40)

[...] Enquanto não levarmos a sério a intensidade do envolvimento da educação com o mundo real das alternantes e desiguais relações de poder, estaremos vivendo em um mundo divorciado da realidade. As teorias diretrizes e práticas envolvidas na educação não são técnicas. São intrinsecamente éticas e políticas. (p.41)

 
 [...] Finalmente, senti que era necessário transportar-me para dentro da escola e escrutinar rigorosamente o verdadeiro currículo – não só o explícito, mas também o oculto – que dominava a sala de aula

[...]. Meu objetivo era sintetizar, reformular e ampliar investigações acerca do papel social de nossas teorias e práticas educacionais amplamente aceitas. (p. 44 a 45)

[...]Boa parte de minha vida de ativista, pesquisador e professor tem sindo gasta tentando unir as fronteiras artificiais entre, digamos, política e educação, entre currículo e ensino de um lado e questões de poder cultural, político e econômico de outro.” (p. 54)

Currículo e Avaliação

Existe uma relação direta entre currículo e avaliação, pois a prática pedagógica só faz sentido quando inserida em uma prática curricular.
A avaliação está presente em todas as atividades humanas, logo quando falamos em "avaliação" não nos referimos apenas a escola, pois somos avaliados a todo o tempo em todos os lugares. Então, por que o termo "avaliação" mete tanto medo nos alunos? A resposta para tal questão é simples e clara: O que nós professores fazemos em sala de aula não é avaliação, é Prova. O aluno deve em um tempo estipulado, em uma data estipulada e em um pedaço de papel com um tamanho também estipulado escrever o que ele "aprendeu" sobre determinado conteúdo.

Quando uma avaliação é elaborada, ela deve vir precedida de algumas indagações: 
** O que avaliar?
** Pra que?
** Quando?
**Como?
** Com quais critérios?
A avaliação como é realizada, está centrada apenas no desempenho cognitivo dos alunos, com o objetivo de aprovar ou reprovar, baseando apenas em registros numéricos para que tal escolha seja feita. Ou seja, reduzimos os alunos a números. As conquistas e os desafios diários são totalmente ignorados, afinal não caiu na prova, não deve ser levado em conta. Desconsideramos drasticamente a trajetória do aluno.

É necessário analisar e entender os modos como os educandos vivenciam a avaliação no ambiente escolar. É preciso uma avaliação em todos os seus aspectos, como os sociais e políticos e não só os pedagógicos.

Muitas vezes o ato de valiar incorpora um papel de controle do trabalho e não de verificar a aprendizagem.

Que tipo de ser humano eu quero formar? Essa é a pergunta chave para começar a pensar em currículo. Temos que conciliar a concepção de avaliação em um currículo aberto e em construção que deve contemplar o conhecimento real dos alunos.
O currículo é o lugar ideal para se processar a avaliação que se deseja em qualquer processo de aprendizagem.


Como local de conhecimento, o currículo é a expressão de nossas concepções do que constitui conhecimento (...). Trata-se de uma concepção do conhecimento e do currículo como presença: presença do real e do significado no conhecimento e no currículo; presença do real e do significado para quem transmite e para quem recebe. (Silva, 2003, p. 64)


TDAH


TDAH
O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um transtorno neurológico de causas genéticas ou não, que aparece na maioria das vezes na infância e acompanha o individuo em toda sua vida.  Cerca de 3 a 5% das crianças em idade escolar são atingidas por essa síndrome. O TDAH é um transtorno de base orgânica associada a uma disfunção em áreas do córtex cerebral, conhecida como Lobo Pré-Frontal. Quando seu funcionamento está comprometido, ocorrem dificuldades com concentração, memória, hiperatividade, impulsividade ou uma combinação destes que são os sintomas desse trastorno.
Ou seja, aquele menino em nossa sala de aula que por muitas vezes é dito como o levado na verdade pode ser um portador do TDAH. Todas as crianças com suspeita de sofrerem dessa síndrome devem ser examinadas com cuidado por um médico para verificar se há outros problemas ou motivos para o comportamento.  
Se houver suspeita de TDAH, a criança deve passar por uma avaliação médica. A avaliação pode consistir em:
·       ***  Questionários para pais e professores
·     ***    Avaliação psicológica da criança E da família, incluindo testes de QI e psicológicos
·       ***  Exames completos mentais, nutricionais, físicos, psicossociais e de desenvolvimento


quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Escola como um meio que prepara para a vida!






“Todo conhecimento começa num sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas da terra. Como mestre só posso então lhe dizer uma coisa: conte-me seus sonhos para que sonhemos juntos". Paulo Freire

Por muitas e muitas vezes, nós educadores paramos para pensar: Será que meu papel na sociedade faz diferença? Será que estou contribuindo para o crescimento de alguém ou de alguma coisa? Será que vale a pena insistir numa educação que muitos dizem estar perdida?
Assistindo a esse vídeo, muitas questões que estavam sem respostas nessa minha cabecinha que vive no mundo da lua foram respondidas. E a resposta foi: Vale a pena sim!!!!!
Muito do que sou hoje, devo a meus professores, que muito mais que me preparar para o mercado de trabalho ou para ingressar em uma universidade, me preparou para a vida!

“Escola, como a vida, não tem ponto final...Mesmo que seus portões fechem, mesmo que as janela não se abram, há ali, um sentido difícil de ser mensurado. Sentido jamais perdido. Como a vida, escola se eterniza nas reticências. Sem ponto final...”
Rita Stano

“Todo conhecimento começa num sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas da terra. Como mestre só posso então lhe dizer uma coisa: conte-me seus sonhos para que sonhemos juntos". Paulo Freire


Currículo e Sociedade

Pensar na escola como um agente de mudanças e o Estado com sua responsabilidade perante a sociedade é ter a esperança de uma educação digna para todos.

O currículo escolar deve ir de encontro com a realidade histórica, cultural e social, precisa estar voltado ao desafio de ensinar a todos, de inclusão, que considere as diversidades de nosso país.

Verás que um filho teu não foge à luta!!!!!

Vem vamos pra rua
Pode vir que a festa é sua
Que o Brasil vai tá gigante
Grande como nunca se viu

Vem vamos com a gente
Vem torcer, bola pra frente
Sai de casa, vem pra rua
Pra maior arquibancada do Brasil






quinta-feira, 6 de junho de 2013

As escolas de hoje limitam a criatividade infantil?

Severino Antônio e Katia Tavares falam sobre o papel da escola em um mundo cercado de modelos prontos, consumismo e no qual as crianças muitas vezes não são ouvidas.

Sociologia e Teoria Crítica do Currículo: Uma Introdução

Autores: Antônio Flávio Barbosa Moreira e Tomaz Tadeu da Silva
Assuntos: Educação, politicas de governo, psicologia educacional, ensino, gestão de professores.

O primeiro capítulo do livro inicia trazendo a muitas vezes errônea concepção de currículo como apenas uma cartilha a ser seguida composta por questões relativas a procedimentos, técnicas e métodos. E deixa claro que currículo é muito mais que isso, pois tem uma história vinculada a formas especificas e contingentes  de organização da sociedade e  da educação.
O texto é dividido em dois temas:
Emergência e desenvolvimento da sociologia e da teoria crítica do
currículo.
Uma visão sintética dosa temas centrais da análise crítica e sociológica
do currículo.

No primeiro tema, temos uma volta histórica no desenvolvimento do currículo. Durante o século XXI nos Estados Unidos educadores iniciaram um tratamento mais metódico de problemas e questões curriculares dando surgimento de um novo campo. O principal objetivo desses especialistas era planejar cientificamente as atividades pedagógicas e controla-las. Nessa época a economia passou a ser denominada pelo capital industrial, pois os EUA estava passando pelo período pós- guerra civil.  A partir de então uma nova concepção de sociedade começou a ser aceita e difundida. Cooperação e especialização ao invés de competição configuraram os núcleos de uma nova ideologia. O sucesso na vida profissional passou a requerer evidências de méritos na trajetória escolar. 
Duas tendências em seus momentos iniciais representaram diferentes respostas as transformações sociais, politicas e econômicas por que passava o país. Uma que valorizava os interesses do aluno, representada pelos trabalhos de Dewey e Kilpatrick que aqui no Brasil ficou conhecida como escolanovismo. E outra para a  construção científica de um currículo que desenvolvesse os aspectos da personalidade adulta que aqui denominou tecnicismo.
Uma nova onda de insatisfação nos anos 70 tomou conta da população que criticava o novo modelo de educação durante a corrida espacial. Insistiram então em restaurar a suposta qualidade perdida na educação. A partir de então houve uma reforma nos currículos de Ciências, Matemática, Estudos Sociais e etc.
No período de 1950-1980, novos rumos teóricos e metodológicos transformaram a feição do ensino e da pesquisa da Sociologia na Grã-Bretanha, uma Sociologia renovada.
Tanto os primeiros textos da NSE como seus desdobramentos permanecem
até hoje insuficientemente divulgados
no Brasil (Silva, 1990).
No segundo tema o autor começa deixando claro que o conhecimento corporificado como currículo educacional não pode ser mais analisado fora de sua constituição social e histórica.
Ideologia, cultura e poder foram os três eixos escolhidos para mapear as questões e temas que continuam centrais na Teoria Crítica e na Sociologia do Currículo.

I) Currículo e Ideologia:
A ideologia era vista como uma imposição. Essa visão amplia-se em três
dimensões: A primeira, a ideologia não teria efeito se não contasse com
alguma forma de consentimento dos envolvidos.  A segunda, a ideologia não é
homogênea e coerente de ideias, é feita de diferentes espécies de conhecimentos. Nesse contexto foi muito importante  o desenvolvimento do conceito de hegemonia, a partir do pensamento de Antônio Gramsci, que chama a atenção exatamente para o aspecto contestado do terreno ideológico. A terceira dimensão, nesse processo de refinamento do conceito, os mecanismos de transmissão foram sendo vistos como muito sutis. A ideologia perde aqui sua conotação idealista, para ser vista como tendo existência material. 

II) Currículo e cultura
Na teoria educacional tradicional cultura e currículo formam um par
inseparável, formando uma forma institucionalizada de transmitir a cultura de
uma sociedade.
O currículo e a educação estão profundamente envolvidos em uma
política cultural, o que significa que são campos de produção ativa de cultura .
Portanto, o currículo é um terreno de produção e de política cultural no
qual os materiais funcionam com matéria-prima de criação, recriação e de
contestação e transgressão.

III) Cultura e poder
O currículo ao expressar as relações de poder, no seu aspecto oficial,
constitui identidades individuais e sociais que ajudam a reforçar as relações de poder existentes fazendo com que os grupos subjugados continuem da mesma forma. Reconhecer que o currículo está atravessado por relações de poder não significa ter identificado essas relações. Grande parte da tarefa da analise educacional consiste precisamente em efetuar essas identificações. Cabe a teorização curricular critica em um esforço continuo de identificação e análise das relações de poder envolvidas na educação e no currículo  O currículo como campo cultural, como campo de construção e produção de significações e sentido, torna-se assim um terreno central dessa luta de transformação dessas relações de poder.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

quinta-feira, 2 de maio de 2013

"Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre." Paulo Freire


Aprender a aprender


Esse vídeo relata muito bem nossa vida de professor, composta por erros e acertos, mas acima de tudo repleta de força de vontade para alcançarmos a perfeição. No vídeo, me enxerguei algumas vezes como a menina com tentativas incansáveis de aprender com as dificuldades e por vezes com a tartaruga na pessoa do professor sábio que aprendeu após anos e mais anos de paciência e trabalho.
Espero que, como professores, jamais pensemos em desistir e de ensinar  tornando-nos a cada instante de nossa vida uma garotinha e uma tartaruga!!!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Esquematizando Idéias

O que é realidade?


Em meio a várias discussões na última aula, um questionamento me levou a uma reflexão que jamais tinha realizado: O que é a realidade? Seria coisas concretas, que podemos tocar? Seria um ponto de vista? Tudo o que é perceptível?
Mas, perceptível pra quem? Como?
Será que a imaginação também não é algo real? Nós professores temos o costume de dizer: Você não conhece a realidade da escola pública! A realidade em sala de aula é outra! E outras frases bem parecidas. Depois de muitos levantamentos sobre o que é realidade, achei esse vídeo que  muito me orientou sobre “O que é realidade?” e espero que possa ajudar a todos os que assim como eu, fica instigado por tal questionamento.

As Histórias Únicas



A leitura do primeiro capítulo do livro "O Currículo - reflexões sobre a prática", de J. Gimeno Sacristán, levantou facetas diversas sobre o entendimento do que é o Currículo.
Quando conectamos tal conteúdo com o vídeo de Chimamanda Adichie (que segue neste post), produzimos uma síntese das ideias que nos vieram à mente.
O conceito de currículo é algo realmente muito difícil de ser definido devido às diversas vertentes a que ele se destina no âmbito educacional, social, econômico e político. No entanto, essas vertentes são desconhecidas no que diz respeito à ideia que a grande maioria das pessoas fazem sobre o currículo. O entendimento popular de currículo é de que ele representa uma simples organização de atividades e conteúdos escolares, um conjunto de experiências a serem vividas pelos alunos e um conjunto de obrigações da escola para proporcionar essas experiências a esses alunos, enfim, se limitam a um entendimento técnico sobre o significado de currículo, isso ocorre porque as pessoas que pensam dessa forma não têm conhecimento sobre as diversas áreas em que o currículo está interligado e que dão origem aos seus significados. Essa falta de conhecimento sobre o papel do currículo caracteriza o que podemos chamar de “história única”, porque uma ideia sem o real conhecimento dos fundamentos da mesma acabam gerando estereótipos que implícita a verdadeira essência dessa ideia. 

O currículo se revela em atividades e obtém significados a partir delas. Atividades essas que derivam de tradições, valores, crenças enfim provém da cultura e resiste a mudanças quando uma proposta metodológica alternativa pretende instalar-se em condições já dadas. Temas intimamente ligados a compreender o funcionamento da realidade são sugeridos pelo currículo.  Podemos afirmar que não existe processo de ensino aprendizagem sem conteúdos de cultura; o conteúdo cultural é a condição lógica do ensino.

O currículo se apresenta no ambiente escolar como um projeto cultural, social, politico e administrativo e este se torna realidade dentro das condições da escola e de como ela esta configurada.

Como podemos observar o currículo é algo acima de tudo cultural, e estar aberto apenas para essa cultura local nos impregna de “histórias únicas” sobre grupos, instituições, países, pessoas...

Acredito que o objetivo de todo profissional da educação é formar cidadãos críticos e se não nos libertarmos dessas histórias únicas, para então podermos reconquistar um paraíso as histórias só servirão para privar-nos de conhecer o outro e de aprender com o outro e nosso alvo dificilmente será alcançado.

Um professor que não esteja disposto a ouvir aquilo que o aluno tem a dizer sobre si mesmo muito provavelmente irá se orientar pela “história única” que ele conhece acerca desse aluno e, sem dúvida alguma, desprezará grande parte das experiências que tal indivíduo adquiriu ao longo de sua vida, e desprezar essas experiências é privar-se de conhecer o outro, de acessar o universo do outro, é privar-se de aprender com o outro.

 A realidade das práticas escolares é permeada de influências, como já afirmamos anteriormente. Podemos falar, ainda, da influência da academia na escola básica. Essa força doacademicismo se refere, principalmente, à divisão do ensino em disciplinas específicas. Esse aspecto traz como orientação central ao currículo um apoio maior em CONTEÚDOS do que em aspectos PEDAGÓGICOS. Uma perspectiva dita experimental surge, então, colocando como alternativa (essencial) que o currículo ligue-se às EXPERIÊNCIAS DOS SUJEITOS, que recrie as culturas vivenciadas por professores e alunos e demais atores do meio escolar. “O importante do currículo é a experiência”, defendia Dewey (1967).

Outra vertente que trouxe influências ao modo de pensar o currículo vem de uma perspectiva mais tecnicista e burocrática. Nessa visão, o currículo é visto como uma responsabilidade profissional e, mais ainda, como um objeto de gestão. As dimensões culturais, sociais e históricas do currículo são deixadas de lado e a teoria curricular passa a ser um instrumento de racionalidade e melhoria de gestão.

Tyler e Johnson são dois autores que propõem uma teoria do currículo baseada em outros aspectos além dos técnicos. Para o primeiro, o currículo é composto das experiências de aprendizagem planejadas pela escola a fim de se alcançar certos objetivos educativos. Já o segundo defende que o currículo é o conjunto de objetivos que se quer alcançar – os meios de fazê-lo não são preocupações curriculares.

Fica claro que, assim como nas discussões anteriores, surgem diversas concepções de currículo ao longo de nossos estudos. A importância de conhecê-las e refletir sobre elas não está na intenção de eleger uma concepção vencedora, mas justamente no intuito de ampliar nossa visão sobre esse tema. O currículo, com seus sentidos múltiplos, tem histórias diversas. Não podemos nos prender a uma história única de currículo e deixar de lado as ideias distintas que se apresentam.

Importante concluir que, segundo o autor, o currículo deve vir como uma possibilidade deemancipar professores e alunos. Não se deve pensar em utilizar o currículo como uma forma de tolher professores e subjugar alunos, mas sim como um caminho emancipatório. Para que isso ocorra, ele deve ser entendido como uma práxis que, segundo Grundy (1987), reflete sobre si mesma, ocorre em condições concretas e não em hipóteses, que considera o social em que está imerso. É essencial que não nos prendamos a histórias únicas de currículos como objetos fechados, como organização de conteúdos, como normas e orientações deslocadas e frias. Há um alerta para que olhemos para essas histórias de currículos como práxis repletas de vivências e da cultura, como canais da reflexão dos professores e da comunicação entre ideias e valores dos sujeitos. Stenhouse (1980) defende que “um currículo, se é valioso, (...) proporciona um campo onde o professor pode desenvolver novas habilidades, relacionando-as com as concepções do conhecimento e da aprendizagem”. As teorias curriculares procuram explicar uma dupla dimensão: as relações do currículo com o exterior e o currículo como regulador do interior das instituições escolares (p. 53). Para tal, precisamos nos aventurar em outras perspectivas que não a dominante, que não a imposta. Precisamos buscar conhecer múltiplas histórias.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Joãozinho da Maré


O Joãozinho de nossa história é um moleque muito pobre que mora numa favela sobre palafitas espetadas em um vasto mangue.  Nosso Joãozinho só vai à escola quando sabe que vai ser distribuída merenda, uma das poucas razões que ele sente para ir à escola. Do fundo da miséria em que vive, Joãozinho pode ver bem próximo algumas das grandes conquistas de nossa civilização em vias de desenvolvimento (para alguns). Dali de sua favela, ele pode ver de perto uma das grandes universidades - onde se cultiva a inteligência e se conquista o conhecimento -, a UFRJ. Naturalmente esse conhecimento e a cultura ali cultivados nada têm a ver com o Joãozinho e outros tantos milhões de Joãozinhos pelo Brasil afora.
            Além de perambular por toda a cidade, Joãozinho costuma caminhar pelas pistas da Linha Vermelha, de onde pode ver o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Isso certamente é o que mais fascina os olhos de Joãozinho. Aqueles "grandes pássaros" de metal que sobem imponentes com um ruído de rachar os céus. Joãozinho, com seu olhar curioso e sonhador acompanha aqueles “grandes pássaros” até que, diminuindo de tamanho, desaparecem no céu. Talvez por frequentar pouco a escola, por gostar de observar os aviões e o mundo que o rodeia, o Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Joãozinho ainda não perdeu aquela curiosidade de todas as crianças, aquela vontade de saber o “como” e o “porquê”, especialmente em relação às coisas da natureza. Essa curiosidade e o gosto de saber se vão extinguindo em geral, com a frequência à escola. Não há curiosidade que aguente aquela “decoreba” sobre o corpo humano, por exemplo.
            Sabendo por seus colegas que nesse dia haveria merenda, Joãozinho resolve ir à escola. Nesse dia sua professora se dispunha a dar uma aula de ciências, coisa que o Joãozinho gostava. A professora havia dito que nesse dia iria falar sobre coisas como o Sol, a Terra e seus movimentos, verão, inverno etc.
A professora começa por explicar que:
- O verão é o tempo do calor;
- O inverno é o tempo do frio;
- A primavera é o tempo das flores e;
- O outono é o tempo em que as folhas ficam amarelas e caem.
            Em sua favela no Rio de Janeiro, Joãozinho conhece tempo de calor e de mais calor ainda. As flores da primavera e as folhas amarelas que caem ficam por conta de acreditar. Num clima tropical como o do Rio de Janeiro, Joãozinho não viu nem um tempo de flores. As flores por aqui existem ou  não, quase independentemente da época do ano. Mas Joãozinho, observador e curioso, resolve perguntar por que acontecem ou devem acontecer tais coisas. A professora resolve então dar a explicação:
- Eu já disse a vocês, numa aula anterior que a Terra é uma grande bola e que essa bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites. Acontece que quando a Terra está girando ela também está fazendo uma grande volta ao redor do Sol. Essa volta se faz em um ano. O caminho ou órbita que a Terra percorre ao redor do Sol é uma curva alongada chamada elipse. Além de essa curva ser achatada ou alongada, o Sol não está no centro. Isso quer dizer que em seu movimento, a Terra às vezes passa perto, às vezes passa longe do Sol.
- Quando passa mais perto do Sol é mais quente: é Verão.
- Quando passa mais longe do Sol recebe menos calor: é Inverno.
            Os olhos de Joãozinho brilhavam de curiosidade diante de um assunto novo e tão interessante.
- Professora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que está girando enquanto faz a volta ao redor do Sol?
- Sim, eu disse, responde a professora com segurança.
- Mas se a Terra é uma bola e está girando quase todo dia perto do sol, não deve ser verão em toda a Terra?
- É Joãozinho, é isso mesmo.
- Então é mesmo verão em todo o lugar e inverno em todo lugar ao mesmo tempo, professora?
- Acho que é Joãozinho, mas vamos mudar de assunto menino.
            A essa altura a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência natural do Joãozinho já começava a provocar certa insegurança na professora.
- Mas, professora, insiste o garoto. Enquanto a gente está ensaiando na escola de samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo?
- É mesmo Joãozinho.
- Então nesse tempo é verão aqui?
- É Joãozinho.
- E o Papai Noel no meio da neve com roupas de frio e botas. A gente vê nas vitrines até as árvores com algodão. Não é para imitar a neve?        
- É, Joãozinho. Na Terra de Papai Noel faz frio.
- Então na Terra do Papai Noel, no Natal, faz frio?
- Faz, Joãozinho.
- Mas então tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inverno ao mesmo tempo?
- É Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula e eu tenho um programa a cumprir.
            Mas Joãozinho ainda não havia sido “domado” pela escola. Ele não havia ainda perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas, e querer entender as coisas. Por isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste.
- Professora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo em lugares diferentes, se a Terra que é uma bola, deve estar perto ou longe? Uma das duas coisas não está errada?
- Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a professora está errada? Quem andou pondo essas idéias em sua cabeça?
- Ninguém não, professora. Eu só “tava” pensando. Se tem verão e inverno ao mesmo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra “tá” perto ou “tá” longe do Sol? Não é mesmo, professora?
            A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma postura de autoridade científica:
- Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor do Sol, que essa ocupa um dos focos e, portanto, ela se aproxima ou se afasta do Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno.
            Sem se dar conta da irritação da professora nosso Joãozinho lembra-se da sua experiência diária e acrescenta:
- Professora, a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia inteiro.
- E daí, Joãozinho? O que isso tem a ver com verão e inverno?
- Sabe professora, eu achei que tem. A gente sabe que um avião “tá” chegando perto quando ele vai ficando maior. Quando ele vai ficando pequeno é porque ele está ficando mais longe.
- E o que isso tem a ver com a órbita da Terra, Joãozinho?
- É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele maior. Quando a Terra estivesse mais longe do Sol, ele deveria parecer menor, não é professora?
- E daí menino?
- A gente vê o Sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele “tá” sempre na mesma distância? Então verão e inverno não acontecem por causa da distância da Terra ao Sol!
- Como você se atreve a contradizer sua professora, Joãozinho? Quem anda pondo essas “minhocas” na sua cabeça? Faz quinze anos que eu sou professora. É a primeira vez que alguém quer mostrar que a professora está errada.
            A essa altura, a classe se havia tumultuado. Um grupo de outros garotos já havia percebido a lógica arrasadora do que o Joãozinho dissera. Alguns continuavam indiferentes. Outros aproveitaram a confusão para aumentá-la. A professora havia perdido o controle da classe e já não conseguia impedir a bagunça nem com ameaças de repressão.
Em meio àquela confusão tocou o sinal para o fim da aula, “salvando” a professora de um caos maior. Não houve aparentemente nenhuma definição de vencedores e vencidos nesse confronto. Indo para casa, a professora ainda agitada e contrariada se lembrava do Joãozinho que lhe estragara a aula e o dia. Além de pôr em dúvida o que ela afirmara, o Joãozinho ainda deu um “mau exemplo”. Joãozinho com seus argumentos ingênuos mas lógicos, despertou muitos para o seu lado.
- Imagine se a moda pega, pensa a professora. O pior é que não me ocorreu qualquer argumento que pudesse "enfrentar" a argumentação do garoto.
- Mas foi assim que me ensinaram. E é assim mesmo que eu ensino, pensa a professora. Faz tantos anos que eu dou a mesma aula sobre este mesmo assunto!
            À noite, mais calma, a professora pensa com os seus botões:
- Os argumentos de Joãozinho foram tão claros e ingênuos! Se o inverno e o verão fossem provocados pelo maior ou menor afastamento da Terra em relação ao Sol, deveria ser inverno ou verão em toda a Terra. Eu soube que enquanto é verão em um hemisfério, é inverno no outro. Então tem mesmo razão o Joãozinho. Não pode ser esta a causa do calor e do frio na Terra. Também é absolutamente claro e lógico que se a Terra se aproxima e se afasta do Sol, este deveria mudar de tamanho aparente. Deveria ser maior quando mais próximo e menor quando mais distante.
- Como eu não havia pensado nisto? Como posso ter “aprendido” coisas tão evidentemente erradas?
- Como não me ocorreu alguma dúvida sobre isso?
- Como posso eu estar durante tantos anos “ensinando” uma coisa que eu julgava ciência, e que pode ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um garoto, sem nenhum outro pré-requisito?
            Remoendo estas idéias a professora se põe a pensar outras tantas coisas que poderiam ser tão falsas e inconsistentes como as “causas” para o inverno e o verão:
- Porque tantas outras crianças aceitaram sem resistência o que eu disse? Por que apenas o Joãozinho resistiu e não “engoliu”? No caso do verão e do inverno a inconsistência foi claramente verificada. Era só pensar! Podemos estar tão habituados a repetir as mesmas coisas que já nem nos damos conta de que muitas destas coisas podem ter sido simplesmente acreditadas. Muitas destas coisas podem ser simples “atos de fé” ou “crendices” que nós passamos adiante como verdades científicas ou históricas: “atos de fé em nome da ciência”.
            É evidente que não pretendemos nem podemos provar tudo que dizemos ou tudo o que nos dizem.
            O episódio do Joãozinho levantara um problema sério para a professora.
            Que bom que houve um Joãozinho!
            Haverá sempre um Joãozinho para levantar dúvidas?
            Talvez alguns outros tenham também percebido e tenham se calado sabendo da reprovação ou da repressão que poderiam sofrer com uma posição de contestação.
- E eu é que ia até me ofendendo com a atitude lógica e ingenuamente destemida de Joãozinho, pensa a professora. Talvez a maioria dos alunos já esteja “domada” pela escola. Talvez a escola esteja justamente fazendo o contrário do que os professores pensam ou desejam. Talvez o papel da escola tenha muito a ver com a passividade em relação aos problemas do mundo que nos rodeia. Não terá isso também a ver com outro problema?
            Todas as crianças têm uma inata curiosidade para saber os “como” e “porquê” das coisas, especialmente da natureza!
            À medida que a escola vai "ensinando", o gosto e a curiosidade vão se extinguindo, chegando freqüentemente à aversão.
            Quantas vezes as nossas escolas, não só a do Joãozinho, pensam estar tratando da ciência por falar em coisas como átomos, órbitas, sinanteria, élitros, mitocôndrias, interferon, nicho etc? Não são palavras difíceis que conferem à fala do professor o caráter ou "status" de coisa científica.