quarta-feira, 3 de julho de 2013

Pensamentos e autoavaliação

Gostaria de iniciar essa autoavaliação com um belíssimo texto que foi apresentado em sala de aula.
Texto “A borracha” de Marina Fernandes
Clarinha, filha de minha amiga Alessandra, no auge dos seus quatro anos, já sabe, como os demais de sua geração, o significado de “deletar”, a função do “backspace”, e, se duvidar, já se arrisca a usar o ctrl+z. Mas o que tem encantado Clarinha nesses últimos tempos é mesmo a borracha: a descoberta desse avanço tecnológico que permite apagar o que suas mãozinhas produzem com o grafite do seu lápis. Claro que ela não classifica os efeitos da borracha como “avanço tecnológico”. Para ela é mágica. Ou “apenas” mágica, como diriam os menos esclarecidos. Clarinha encontrou na borracha as delícias do fazer e desfazer. Ou melhor: fazer, desfazer e refazer. Então, não foi de assustar quando, ouvindo com a mãe os últimos acontecimentos do Brasil, seus olhinhos brilhassem ao perguntar: “Mas mamãe!!! Existe uma bala toda feita de borracha??? Difícil é tentar refazer a imagem que se formou naquela cabecinha cheia de cachinhos castanhos, mas uma coisa é certa: para ela, alguém havia conseguido unir em um único elemento seus dois maiores objetos de desejo! Que gênio teria feito isso? Certamente na condição de inferioridade que o mundo adulto nos impõe, melhor nem tentar descobrir a gama de possibilidades que Clarinha atribuiu àquele objeto tão especial, tão perfeito ao ponto de saciar o paladar e a criatividade ao mesmo tempo! Podemos apenas concluir que no mundo de Clarinha não existem conflitos armados ou manifestações populares. Gasolina é apenas algo com cheiro ruim que faz o carro da mamãe andar. E bola de futebol é aquilo que se compra na lojinha da esquina com um dinheirinho azul que tem o desenho de uma tartaruga. É, Clarinha, quem dera todos nós fizéssemos a oração de Adélia Prado: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande.” Então, minha querida, teríamos hoje um lindo objeto que, além de apagar o que está errado, ainda permitiria fazer tudo novamente. E mais: esse processo viria acompanhado de um doce gostinho de morango... ou outra fruta qualquer...

Quando iniciei a disciplina de Tendências Contemporâneas de Currículos a primeira questão levantada pela professora Rita foi: O que é currículo? E sem pestanejar respondi pra mim mesma com todo o meu jeitinho mineiro: Uai, é um documento que vem pra escolas e que os professores devem seguir. Nesse documento constam os conteúdos que temos que trabalhar.
Acredito que essa foi a primeira vez que utilizei a borracha na disciplina. Não que minha concepção de currículo estivesse errada, mas não estava correta. A cada aula que se passava Currículo ganhava uma definição diferente e a borracha não estava mais me servindo tão bem, pois não conseguia apagar minha ideia inicial. Foi preciso virar a página do caderno e descobrir a alegria do recomeço.
A partir de então minha visão sobre currículo foi modificando e através de muitos textos e principalmente muitas discussões sobre o tema que meus conceitos foram expandindo.
Ampliando minhas definições de currículo aprendi que o “poder” está nas mãos dos professores, que o currículo pode até vir pronto, mas somos nós que decidimos o que fazer com ele. Temos autonomia para tal. Aprendi a não mais falar de currículo sem falar de cultura, sociedade, práxis, história, planos de ensino....
Enfim...
Virando a página aprendi que meus erros eram tão importantes quanto meus acertos, afinal não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros.
Nós professores, vemos a borracha e o caderno como simples objetos em sala de aula e por vezes perdemos esse espirito positivo de Clarinha que nos faz enxergar que esses objetos são na verdade lindas metáforas da vida.

Se você errou, apague. Se os erros forem demais, vire a página.

Um comentário:

  1. Muito bem, querida!!!Fez um texto a sua cara, apontando de onde partiu, o que apagou e o que reescreveu acerca do Currículo. Uma metáfora que ajuda a explicar o vivido.

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